Resenha - Comédias da Vida Privada: 101 Crônicas Escolhidas, de Luis Fernando Verissimo

O valor singular e curiosamente inestimável do dia a dia

Exemplar da 32ª edição, de 1996, do best-seller Comédias da Vida Privada: 101 Crônicas Escolhidas

Diálogos amiúde inusitados, aliados a enredos ágeis, combinam-se a considerações reflexivas e até filosóficas, pontuadas por irresistível comicidade satírica, o que conduz, em geral, a desfechos inesperados as crônicas do escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo (1936-), atento e perspicaz observador não apenas das idiossincrasias inerentes à cultura brasileira, como também das peculiaridades concernentes à natureza humana. Assim se revela, com efeito, a essência das originais e argutas narrativas da compilação Comédias da Vida Privada: 101 Crônicas Escolhidas, lançada, em 1994, pela editora L&PM, cuja leitura prazerosos momentos garante àqueles que manifestam, além de disposição (muito) bem-humorada, percepção aguda e sensível dos hábitos e das manias, dos valores e das excentricidades, dos sentimentos e das neuroses, dos pensamentos e das complexidades, e das ideias e dos ideais expressos, em seu dia a dia, por homens e por mulheres comuns.

Sem dúvida, o adjetivo “privada”, em razão do fato de referir-se a situações usuais do cotidiano das pessoas, pode ainda assumir o significado de trivial ou descartável, embora os aspectos corriqueiros da existência humana sejam, no íntimo, as facetas mais fascinantes e mais instigantes de toda a vida, coisa que se destaca nos retratos rotineiros que, devidamente categorizados em sete tópicos distintos – a saber, Fidelidades & Infidelidades, Encontros & Desencontros, Eles &/Ou Elas, Família, Pais & Filhos, No Bar e Metafísicas –, Verissimo cria em textos tais quais “A Aliança”, “Trapezista”, “Sala de Espera”, “A Volta(I)/A Volta(II)”, “Lar Desfeito”, “Escalões”, “Tu e Eu”, “Tios”, “Caixinhas”, “Festa de aniversário”, “A Descoberta”, “O Mundo Restaurado”, “A Verdade” e “O Homem Que Desapareceu no Prado”. De fato, inigualáveis e inimitáveis, essas crônicas desnudam o talento da alma introspectiva de seu criador, responsável por desmistificar, a exemplo de figuras do meio literário como o escritor colombiano Gabriel García Márquez e a poetisa norte-americana Emily Dickinson, a tibieza de espírito comumente associada aos tímidos, permitindo ao mundo enxergá-los de acordo com suas propensões e com seus intelectos complexos, profundos e surpreendentes. 


– Karen Monteiro

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