Paula, a polêmica personagem de A Gata Comeu

Paula, interpretada pela atriz Fátima Freire, numa cena de A Gata Comeu

A novela A Gata Comeu, se bem que tenha sido apresentada diversas vezes na televisão desde sua estreia em 1985, continua a gerar, em razão do delicioso caráter atemporal que lhe é peculiar, algumas discussões concernentes a pontos emblemáticos de seu enredo. Entre eles, pode-se destacar a mudança de comportamento verificada, no decorrer da história, em Paula Queiroz, que, segundo alguns telespectadores, de tranquila e sensata, passa a apresentar-se, sem mais nem menos, histérica e voluntariosa, o que sempre surpreendeu muitos dos admiradores da trama de Ivani Ribeiro. Uma análise minuciosa e atenta dos princípios que norteiam os passos da filha mais velha de seu Martim e de dona Ofélia, todavia, é capaz de esclarecer a verdadeira natureza de tal personagem, cujas características, prontamente no primeiro capítulo do folhetim, já são reveladas por sua autora.
Ao contrário do que defendem alguns, Paula não se evidencia, no começo da mais popular novela das 18 horas que, até hoje, produziu-se, como uma moça discreta e, muito menos, ponderada. A inconveniência da conduta da personagem nas cenas que inauguram sua atuação em A Gata Comeu é, na verdade, incontestável, visto que, enquanto, num episódio, dedica-se, em pleno expediente na agência de turismo na qual trabalha, a desfiar críticas negativas ao próprio patrão, o dr. Horácio, e a sua filha, Jô Penteado  coisa que denota uma tendência à inveja e à maledicência , num momento posterior, mete-se, com claro atrevimento no cais de embarque à primeira excursão, a desafiar limites razoáveis a sua participação na comitiva  algo que esboça uma inclinação ao desrespeito e à impertinência. Não se pode negar que, quando a necessidade de sobreviver ao inóspito ambiente de uma ilha impõe-se ao cotidiano do grupo de viajantes, tão logo estes se tornam náufragos, a noiva de Fábio adota uma postura disciplinada e eficiente – ainda que seja, em grande parte, motivada pelo desejo de representar, perante o futuro marido, o protótipo da esposa ideal –, que, entretanto, pouco a pouco se desvanece, após seu retorno para o Rio de Janeiro, ao mesmo tempo que a mimada e imatura protagonista da trama descobre o amor pela primeira vez em sua vida, tornando-se gradativamente mais ponderada e mais compassiva, qualidades inerentes a sua índole, apesar de exploradas de forma ineficiente em seu dia a dia. 
Percebe-se, em outras palavras, que, diferente do que se pode, a princípio, imaginar, o caráter da "gata" e sobretudo o de sua rival no amor pelo professor são, na introdução do enredo da novela, imediatamente delineados, lançando parte dos fundamentos a partir dos quais se promove o desenvolvimento do folhetim. A fim de que os milhares de telespectadores da atração compreendam, a fundo, os pressupostos que orientam os sentimentos e as ações de Jô e de Paula em suas interações com o mundo em redor, no entanto, faz-se necessário conferir, é claro, a evolução de cada personagem ao longo dos 160 capítulos da trama, de sorte a permitir que ambas conquistem a compreensão e a eventual simpatia do público. Sem dúvida, embora seja difícil gostar da filha mais velha da irritante e interesseira dona Ofélia, de quem se torna claro ter a primogênita herdado muitos genes, a protagonista da história dificilmente deixa de fisgar os corações daqueles que testemunham sua busca pela felicidade e sua superação dos traumas de infância, que, no fim das contas, fazem jus ao título de heroína que lhe é conferido por Ivani Ribeiro. 

– Karen Monteiro

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