Nuno Leal Maia e Christiane Torloni como o professor Fábio Coutinho e Jô Penteado, de forma respectiva, na telenovela A Gata Comeu, originalmente exibida, pela Rede Globo, na década de 80
Diferente do que comumente se pensa acerca do romance central de A Gata Comeu (1985), não se deve imaginar que os momentos de ternura de Jô e Fábio não tenham sido mais explorados pela autora da novela, Ivani Ribeiro, porque ela não soube conferir o devido valor ao relacionamento dos protagonistas, mas, sim, porque seu amor é mais puro, profundo e exemplar – no sentido de servir de modelo para os amantes da vida real – do que o da maioria dos demais casais do folhetim em questão, coisa que implica certa aura de delicadeza, que se deve respeitar por meio do recato ou da omissão de cenas românticas. Com efeito, a pureza inerente à afeição dos personagens principais não diz respeito a algo imaculado ou casto, mas, antes, à ideia de que o sentimento que os une é tão especial que se evidencia capaz de transformar não só seus corações, como também suas vidas.
Jô, por exemplo, apesar de mostrar-se, desde o início da história, uma ótima pessoa, torna-se progressivamente mais sensível e mais sensata, a partir do momento em que se descobre apaixonada; o professor, por sua vez, compreende, em virtude de seu noivado fracassado com Paula e da atração que sente, embora, a princípio, sequer note, pela filha do dr. Horácio Penteado, que o casamento representa algo maior do que a simples necessidade de fazer companhia a alguém. Além disso, percebe-se, na conjuntura final da trama, que a afeição de Fábio pela esposa é absolutamente genuína, a ponto de fazê-lo contornar os obstáculos financeiros e ignorar as maledicências da vizinhança contra sua amada. Trata-se, em resumo, de um ideal amoroso tão bonito e tão singular, que se pode concluir que a autora de A Gata Comeu desejou protegê-lo, mediante a concepção do menor número possível de momentos íntimos para os protagonistas, procedimento que, sem dúvida, destoa daquele que adotou com relação a outros casais de seu folhetim, como Paula e Tony e Lenita e Edson. A sensibilidade do romance dos personagens centrais – e mesmo o de Zazá e seu Vicente, o de Babi e Zé Mário e até o de Ivete e Vitório – assemelha-se à dos pares românticos dos livros de Jane Austen, de quem Ivani Ribeiro certamente era discípula.
Enfim, pode-se afirmar que, ainda que, além de necessárias, sejam surpreendentemente comoventes e belas as cenas de amor dedicadas a Jô e Fábio, nada supera a maestria com que se desenvolve, do início ao fim da novela, seu sólido relacionamento, que, sem dúvida, não seria tão cativante se não fosse permeado pelos quatro planos infalíveis da “gata” para frustrar o casamento do professor com Paula, pela divertida perseguição do mocinho por sua amada, pelo crescente interesse, seguido também de perseguição, de Fábio pela srta. Penteado e, por fim, pela amnésia da protagonista, talvez a mais tocante de todas as fases da trama, já que nela o objeto da afeição de Jô lhe prova, bem como a todos que os conhecem, o quão sincero e inabalável é o sentimento que por ela nutre.
– Karen Monteiro
Um casal inesquecível!
ResponderExcluirSem dúvida, Jô e Fábio constituem o melhor casal que já existiu na teledramaturgia brasileira. Obrigada por comentar, Franci! :*
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