Resenha: O Assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie

O crime dos crimes

Edição de O Assassinato de Roger Ackroyd publicada, na década de 1980, pelo Círculo do Livro

Roger Ackroyd, o mais rico cidadão da cidade inglesa de King's Abbot, é assassinado a sangue-frio, em sua propriedade, Fernly Park, numa noite de sexta-feira, 17 de setembro. Um punhal de Túnis, oriundo da coleção particular de objetos raros do morto, é encontrado em seu pescoço e admitido como a causa de seu falecimento. À hipótese de que a cobiça pela fortuna de Ackroyd tenha motivado o crime une-se a história de uma perversa chantagem, da qual o assassino poderia ter tomado parte. 

A fim de esclarecer as circunstâncias enigmáticas da morte de seu tio e de garantir a inocência do enteado deste, Flora Ackroyd convoca Hercule Poirot, famoso policial belga, que está desfrutando de sua vida de aposentado em King's Abbot. A investigação do caso é, então, aceita e iniciada pelo detetive estrangeiro, cujo trabalho é acompanhado de perto por James Sheppard, médico e amigo íntimo dos Ackroyd, além de uma das últimas pessoas a verem Roger com vida. 

O foco narrativo de O Assassinato de Roger Ackroyd pauta-se pela primeira pessoa ou o "eu" como testemunha, uma vez que o personagem do Dr. Sheppard apresenta-se como o responsável por narrar a trama, consoante uma linguagem clara e envolvente, e por viabilizar a exposição de detalhes e de acontecimentos particulares e instigantes. 

Mais uma vez, Agatha Christie presenteia seus leitores com um enredo policial construído ordenada e cuidadosamente, em que as atenções excessivas e insistentes devotadas a dados personagens desviam por completo a atenção de detalhes significativos, cuja percepção poderia, se não conduzir, de modo efetivo, ao assassino, fornecer, ao menos, pistas quanto ao seu procedimento criminoso. A possibilidade de o leitor descobrir o responsável pelo crime, antes do momento da grande revelação, evidencia-se, pois, muito pouco provável, mesmo que se dispense uma atenção meticulosa a cada circunstância na trama discutida. Tal singularidade, por conseguinte, garante ao romance, publicado em 1926, o merecido reconhecimento como a mais fabulosa obra da "Rainha do Crime". 

 Karen Monteiro

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